Submersos

CIÊNCIA E PESQUISA ACADÊMICA POR TRÁS DE EMBAIXO D’ÁGUA

As reportagens globais da Orb Media se baseiam no uso cuidadoso de ciência emergente e análise de dados. A ciência por trás Submersos é um ótimo exemplo de nossa busca pelo significado humano na ciência. Muitas das ideias e conceitos em nossa reportagem vêm de pesquisas revisadas por pares e dos principais pensadores acadêmicos e profissionais nas áreas de ciência do clima, economia, sociologia e ecologia humana, que é o estudo dos seres humanos e seu ambiente.

Submersos mostra como fenômenos grandes e complexos como o clima e a economia mundiais estão conectados de uma maneira muito concreta à vida cotidiana das pessoas. Também mostra que seres humanos e sociedades em todo o mundo sofrem consequências e desafios semelhantes enquanto se ajustam à nova realidade climática. Como o clima e a economia são muito complexos, temos o cuidado de ser precisos, e não simplificar ou sugerir causalidade quando não é provada.

Enchentes sempre aconteceram e os danos causados pela água sempre geraram custos financeiros para pessoas e sociedades. Mas, nos últimos anos, as inundações severas aumentaram,(1) e essas inundações estão causando mais danos,(2) especialmente em áreas densamente povoadas.

Embora a futura magnitude e frequência exata das inundações sejam incertas no futuro, há boas evidências de que elas continuarão a ser um problema.(3) Isso se dá em parte porque a evolução futura das causas ocultas é incerta, e também por conta de outros fatores variantes, incluindo os efeitos da intervenção humana.(4)

Causas complexas de inundações, incluindo mudanças climáticas e aceleração do ciclo da água

As causas de inundações cada vez mais severas e prejudiciais incluem as mudanças climáticas, a elevação do nível do mar, o ciclo acelerado da água(5) e o aumento da urbanização costeira, particularmente em locais com infraestrutura desatualizada. O gelo está derretendo mais rápido do que esperado,(6) o que resulta em mais água(7) no sistema global. J. Marshall Shepherd, diretor do Programa de Ciências Atmosféricas da Universidade da Geórgia, disse: “É, na verdade, uma equação de três partes que leva a inundações urbanas. Estamos vendo um aumento na urbanização, que está alterando o ciclo da água, pois reduz a infiltração no solo e aumenta a quantidade de escoamento. Em segundo lugar, por causa do aumento do escoamento, há mais água fluindo aos rios e córregos. E, em terceiro lugar, em cidades como Toronto e Nova York, o projeto de remoção de águas pluviais não está preparado para o volume de água que está recebendo.”

O gelo está derretendo mais rápido do que esperado,(8) o que resulta em mais água(9) no sistema global.

Inundações custam dinheiro para pessoas diretamente afetadas e para as que moram longe da área afetada. O efeito cascata na economia é amplo.

"De todos os diferentes riscos naturais, as inundações parecem ser, em média, o tipo de desastre natural que causa mais danos à vida e aos ganhos de desenvolvimento", disse Upmanu Lall, diretor do Centro Columbia de Água na Universidade de Columbia. As enchentes têm impactos imediatamente visíveis ​​nos locais inundados. No entanto, os custos econômicos dessas inundações são muito grandes(10) e se espalham, impactando a economia de comunidades distantes das inundações.(11) “Não é apenas um problema costeiro. É um problema para todos, porque a economia é conectada”, afirmou Amir Jina, professor assistente da Faculdade Harris de Política Pública na Universidade de Chicago. Em todo o mundo, as inundações são uma das formas mais frequentes de desastre(12) e espera-se que os prejuízos causados por inundação(13) aumentem em frequência e gravidade no futuro, devido a uma combinação de desenvolvimento socioeconômico e alterações climáticas. Economistas agora acreditam que o custo das inundações seja maior(14) do que estudos anteriores sugeriram.

As inundações estão impactando as pessoas além de maneiras meramente econômicas

Além dos impactos econômicos, os desastres causados por enchentes impactam(15) severamente o bem-estar subjetivo, a saúde e a produtividade dos seres humanos. Pesquisas mostram que viver em uma comunidade inundada também reduz o bem-estar de um entrevistado,(16) mesmo quando o morador não foi afetado e que os impactos sociais das inundações incluem(17) estresse, ansiedade, depressão e deterioração da saúde mental.

Nossa reportagem analisa sete exemplos que ilustram os custos da inundação em um mundo interconectado

Nossa matéria inclui dados de sete locais. Escolhemos esses locais porque todos sofreram inundações recentemente. Nem sempre é possível concluir exatamente que enchentes são piores ou têm os maiores efeitos, ou até mesmo porque exatamente uma enchente foi tão devastadora. Cada um desses lugares foi severamente impactado por inundações recentes, e esses impactos se espalharam pelo mundo. Tentamos mostrar como as inundações e suas consequências são globais, atingindo países pobres e ricos, pessoas pobres e ricas, quem se molhou ou não. Inundações e seus efeitos são sentidos por diferentes sociedades e indivíduos de maneiras únicas. Estes são alguns exemplos desses impactos.

São Paulo perdeu cerca de US$ 193 milhões devido a enchentes recentes, e o efeito cascata fez com que todo o país perdesse até US$ 1,4 milhão.(18,19)

Os preços do tomate nos Estados Unidos mais do que dobraram nos três meses após a inundação em Immokalee, na Flórida, em 2017.(20,21)

Um projeto colaborativo que visa construir a infraestrutura para proteger Hamburgo dos danos causados ​​por enchentes custará aos contribuintes alemães cerca de € 1,3 bilhão, com contribuições privadas, através de investimentos em projetos de construção, na faixa de € 5 a 5,5 bilhões.(22)

Aeroportos são extremamente vulneráveis ​​ao aumento do nível do mar. O aeroporto de Kochi, em Kerala, na Índia, fechou por 15 dias após enchentes em 2018. O custo estimado foi de 2 bilhões de rupias/US$ 27 milhões.(23,24)

Pessoas cujas casas foram inundadas em Toronto, no Canadá, em 2014 perderam sete dias de trabalho em média, custando-lhes pelo menos US$ 1.500 ou até 3% de sua renda anual estimada.(25)

Bangladesh é uma das maiores origens mundiais de refugiados das mudanças climáticas. O custo médio para um indivíduo migrar atualmente é de US$ 2.600 a US$ 3.900, o que equivale a três anos de renda para o bengalês médio. Os refugiados das mudanças climáticas provavelmente precisarão de 1,4 milhão de novos empregos e 470.000 residências em suas novas localidades.(26)

Inundações em Lagos, na Nigéria, destruíram casas de pescadores locais. A maioria (81%) das famílias de pescadores relatou perda de renda devido a enchentes, e a renda média caiu em até 50%.(27)